19 Julho 2023
Entre os 21 homens que o Papa Francisco criará cardeais em setembro está D. Stephen Ameyu Martin Mulla, arcebispo de Juba, capital do Sudão do Sul.
A reportagem é de Lucie Sarr, publicada por La Croix International, 12-07-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Dom Stephen Ameyu Martin Mulla acolheu o Papa Francisco no Sudão do Sul em fevereiro passado, durante a histórica visita papal. E agora o prelado de 59 anos está prestes a ser criado cardeal.
O arcebispo de Juba, cuja catedral fica na capital da nação mais jovem do mundo, está entre os 21 homens que o papa planeja criar cardeais durante um consistório no dia 30 de setembro, no Vaticano.
Mas o caminho do futuro cardeal Ameyu até o colégio de elite que elege o Bispo de Roma foi repleto de obstáculos. Nem todos ficaram satisfeitos quando Francisco o nomeou arcebispo de Juba em 12-12-2019. Na época do anúncio, ele era bispo há menos de um ano em Tori, no sul do país.
Um grupo de católicos em Juba enviou uma carta à Santa Sé questionando a nomeação de Ameyu. A carta – assinada por três padres e cinco leigos que se descrevem como “anciãos” da comunidade – afirma que Ameyu “de forma alguma seria aceito como arcebispo de Juba”.
Outras cartas de pessoas pertencentes à etnia local Bari – a maioria nessa diocese – acusaram o arcebispo eleito de ter duas esposas e seis filhos. Eles também alegaram que ele havia conspirado com autoridades da nunciatura a fim de ser nomeado. Por fim, queriam que um padre da arquidiocese fosse escolhido como ordinário local.
Uma investigação foi então iniciada para verificar as acusações apresentadas pelos autores da carta para justificar sua rejeição a Ameyu. Depois de concluída, o Papa Francisco decidiu, em 06-03-2020 – que a nomeação permaneceria válida.
A Congregação para a Evangelização dos Povos enviou um emissário, dom Visvaldas Kulbokas (que agora é arcebispo-núncio na Ucrânia) a Juba para facilitar e supervisionar os preparativos para a cerimônia de posse do arcebispo eleito Ameyu.
“Tenho o prazer de informar que, após avaliar diligentemente toda essa situação, o Papa Francisco confirmou dom Stephen Ameyu Martin Mulla como novo arcebispo de Juba”, explicou o emissário do Vaticano em 06-05-2020. Ele disse que a posse ocorreria no dia 22 de março seguinte, na Catedral de Santa Teresa.
Ele explicou que “o processo de investigação foi feito de forma muito concreta, procurando compreender as denúncias e seus fundamentos”.
Apesar desse apoio da Santa Sé, poucos dias antes da posse de Ameyu, o padre encarregado de organizar a liturgia, Nicholas Kiri, foi agredido por um grupo de jovens de Bari que continuavam rejeitando o novo arcebispo.
A posse de dom Stephen Ameyu ocorreu na data marcada, mas foi prejudicada por mais violência. A carreata do presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, foi atingida por um Toyota Land Cruiser que vinha na direção oposta e que ignorou as ordens da polícia para liberar a estrada. Felizmente, houve mais medo do que danos. Três guardas presidenciais ficaram levemente feridos ao bloquear a estrada com seu veículo para evitar que o carro suspeito colidisse com o do presidente.
Desde sua posse sob a bandeira da reconciliação, o arcebispo de Juba tem pedido constantemente a paz em um país atolado em um ciclo interminável de violência desde a independência em 2011. A luta contra o tribalismo nesse país de 64 tribos também é um de seus credos.
“O tribalismo é o maior inimigo do Sudão do Sul”, reiterou ele notavelmente no fim de setembro de 2022. “Não podemos construir a nossa nação ou a nossa Igreja baseando-os no tribalismo: se assim o fizermos, diremos que não há nenhum batismo, não há nenhuma comunhão, não há nenhuma confirmação, e vamos cair, porque é algo que nos divide”, afirmou.
A rivalidade entre os dois principais políticos cristãos – o presidente Kiir (católico da etnia Dinka) e Riek Machar (protestante da etnia Nuer) – mergulhou o país em uma guerra sangrenta de cinco anos (2013-2018) entre grupos tribais linhas. Deixou quase 400.000 mortos. A Comunidade de Santo Egídio facilitou as negociações entre as facções em guerra e, em 2018, conseguiu intermediar um acordo de paz na capital etíope, Adis Abeba.
Embora a violência no país tenha diminuído significativamente desde o acordo, ela não cessou completamente. Segundo um relatório publicado pelas Nações Unidas no fim de fevereiro, pelo menos 440 civis foram mortos entre junho e setembro de 2021 em confrontos entre as duas facções inimigas.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Futuro cardeal do Sudão do Sul: um árduo caminho até a ser cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU